Apresentados

O trabalho como custo variável e capital descartável

Um homem ou mulher saiem de manhã para o emprego. Antes, a labuta das tarefas domésticas a deixar cumpridas, o arranjar dos filhos, alguns a deslocação para a escola e a odisseia dos transportes públicos. Mesmo que o sol raie em todo o seu brilho, muitos levam às costas problemas por resolver ou contas para pagar. Um empurrão aqui, um ajeita para ali lá se acomodam nos autocarros. Melhor ou pior dormidos têm que estar a horas nos respectivos postos de trabalho. Este mundo que os envolve não se queda à porta do local de trabalho acompanha-os por largos períodos de tempo e agravam a sua disposição laboral.
E será que o ambiente laboral é um meio de colmatar as preocupações que já têm ou ainda as vai agravar? Muitos têm chefias mal preparadas, trabalhos pouco desafiantes e perspectivas de estagnação longas. Quantos não se sentem descartáveis? Recibo verde e contractos mensais. O fim do mês tão ansiado vem com notas de impostos elevados e os montantes brutos quedam-se magrinhos.
É o tempo das suas vidas que vai passando, com tanta repetição que cada dia parece decalcado do anterior. Melhor do que estar desempregado, dirão. Certamente que sim. Mas por onde se vai a vida, os objectivos de alegria e felicidade, a tranquilidade e satisfação de realização profissional, e evolução natural que todo o indivíduo deseja?
Nos tempos que correm o trabalho tornou-se um capital humano e um custo variável de muita empresa. Sabe-se que só grupos de trabalho unidos e coesos conseguem realizações de vulto. Para isso há que haver uma política de recursos humanos virada para seres humanos, atenta e protectora de todo o imenso potencial, que mais ou menos, existe em todos.
Antigamente, nos exércitos os cavalos eram mais valioso que os soldados porque havia menos. Todos sabemos o significado de carne para canhão. Hoje as máquinas começam a ser mais importantes que os homens.
Será possível uma sociedade diferente? Mesmo abstraindo do mito da igualdade absoluta é possível criar ambientes saudáveis. Qualquer dirigente deve ter uma cultura abrangente e saber que está a lidar com seres humanos. Se apenas é um tecnocrata que se baseia em técnicas mecânicas ou engodo e desprezo pelos outros nunca será digno de dirigir.
Na minha vida profissional, não poucas vezes me deparei com tecnocratas e também ignorantes que do alto dos seus poleiros exerciam o poder com toda a indiferença pela condição humana. Muitos transportam as sua frustrações domésticas para o local de trabalho e martirizam os outros tentando passar de tristes coitados a verdugos. Se a isto juntarmos a incompetência que os acompanha desde as escolas e o compadrio político, como sucede em muitos lugares temos um quadro muito triste. Um dirigente é sobretudo um condutor de outros homens, um exemplo e que se preocupa em fazer crescer os outros.
Não identificação com os objectivos da empresa, pública ou privada, a certa altura, torna o trabalho mais um fardo do que uma actividade gratificadora.
Tanto em contacto com empregados de estabelecimentos onde efectuo compras como durante cursos dados em grandes organizações sempre me deparei com situações onde a queixa explícita ou subentendida se revela. São largas as horas passadas fora das salas dos cursos falando com os assistentes desde pequenos quadros a altos cargos.
Fala-se muito em Produto Nacional bruto, estatísticas, exportações e desenvolvimento económico mas interrogamo-nos pouco sobre o funcionamento das organizações que constituem uma parte importante desse mesmos dados. É mais fácil ver a imensidão da floresta do que a beleza das folhas de uma planta ao longe.

Comentários

Mensagens populares